“Como saber se um finlandês
gosta de você? Fácil: se ele estiver olhando para o seu sapato em vez do dele.”
Quem conta a piada é a escritora Susan Cain em “O Poder dos Quietos” (ed. Agir,
2012), em que fala da fama de introvertidos que os nódicos têm.
Não sou finlandesa. Mas muitas vezes prefiro ficar em
casa lendo a ir a uma festa, fazer palavras cruzadas em vez de
socializar com estranhos, assistir a um filme em vez de sair para beber. Gente
muito animada me dá alergia, assim como rodinhas de violão estridentes. Dar
entrevistas para a tevê me é tão prazeroso quanto tomar uma injeção.
O introvertido é uma pessoa sensível que se sente confortável
tendo a si mesmo como companhia. Prefere ambientes sossegados e gosta mais de
ouvir do que de falar. Segundo Susan, um terço da população é assim. A
introversão é um pouco diferente da timidez, que é o medo do julgamento social,
e se define melhor pelo modo como respondemos aos estímulos, incluindo os
sociais. Introvertidos sentem-se bem com menos estímulos e são atraídos pelo
mundo do pensamento e do sentimento; extrovertidos pelas atividades e a
companhia dos outros. Funcionam de forma diferente.
Ainda assim, aprendemos que introversão é um
defeito. Na escola e no trabalho, a extroversão tornou-se um padrão opressivo
que a maioria de nós acha que deve seguir. Quando eu estava no ensino médio, tomei uma advertência por ser
antissocial. Diziam que eu devia me esforçar para ser mais extrovertida, do
contrário não seria nada na vida. Assim como muita gente, fui coagida a “sair
da concha”.
Com o tempo, vi que o ideal expansivo é uma bobagem. Ninguém
deveria se sentir obrigado a ser quem não é; em lugar disso, deveríamos
valorizar os introvertidos pelas suas qualidades singulares.
Hoje adoro jogar vôlei e dançar, mas sei que preciso recarregar a
bateria ficando sozinha. Virei escritora em vez de repórter e não sinto
necessidade de provar o meu valor sendo sociável o tempo inteiro.
E acho a maior graça quando me aconselham a “sair da concha”:
respondo que ninguém diz isso ao molusco e boto de volta o fone de ouvido.
Texto de Vanessa Bárbara.
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