Aquilo que Ninguém Precisa Entender

É estranho como algumas coisas acontecem sem ter um motivo. Meio que sem querer. E às vezes começo até a acreditar que podia ser obra do destino. Ou uma coincidência. Não da para explicar. Grande mistério, dilema infinito, muitas possibilidades e incontáveis possibilidades. Eu me perco numa nuvem de suposições em busca de uma resposta para tudo - ou quase tudo.
Eu não sabia que horas eram. Mas as podia sentir o perfume que as damas da noite exalavam no ar e o céu estava mesclado de rosa e azul. Dizem que é sinal de frio, talvez seja, mas podia senti-lo subindo pela espinha e na pontinha do nariz. Um vento indeciso que não sabia se ia ou se ficava, que me soprava uns fiapos de cabelo que iam no seu ombro e voltavam, assim como seu pé batia no meu de vez em quando enquanto balançava a perna dependurada no muro, então em cada lado da sua bochecha apareciam uma covinha.
Foi então que disse alguma coisa sem sentido. Uma sensação de culpa veio atona, me fazendo sentir uma imbecil, um pressentimento que apertava o peito que não durou alguns segundos. Ele riu de mim ou para mim, eu não soube como ainda não sei. Mas foi o que fez com que tudo voltasse a ficar bem.
Chegou mais perto, fez barreira do frio, menos do que vinha de dentro para fora carregado de quentes suspiros que soltava devagarinho, talvez não fosse o único que estivesse assim. Dava para ver cada parte de sua íris, a mistura do cinza com o azul. As palavras quase podiam sair por ali. Mas ele disse antes que pudesse decifra-las. Fez. E permaneceu assim.
Às vezes você precisa viver alguns momentos para que algumas coisas sem sentido comecem a fazer algum sentido para você. Mesmo que algumas coisas passam despercebidas e talvez no dia seguinte não se lembre direito do que aconteceu, como se naquele momento sua mente estivesse mergulhada numa profunda amnésia. E por mais que você tente se lembrar ou entender, não vai conseguir. Sabe o por quê? Os momentos que agente mais gosta são aqueles que menos conseguimos explicar.