21 novembro, 2013

Alguém Precisava Falar Isso Sobre Saudade

Só a língua portuguesa tem a palavra “saudade”, os poetas de plantão cantam aos sete ventos. Como se saudade fosse dos sentimentos mais belos e nobres. Tavez devêsse-mos colocar neste pedestal as lembranças, estas sim gostosas e bem vindas. A saudade na verdade implica um sentimento de falta. De alguém ou de algo que se viveu lá atrás e não podemos ter no presente. A saudade é uma algema que prende você e seus pensamentos num momento que já foi. Numa lembrança que deveria ser apenas uma boa memória e não uma âncora que quer levar você ao fundo do poço. A saudade não enterra os mortos. A saudade não termina relacionamentos. A saudade não inicia novos caminhos. A saudade não muda de cidade, nem de escola ou de emprego. A saudade é abandono e solidão. A saudade parece linda e bela, mas é o que faz você viver de um passado que já foi e não é mais. Ela parece tão bonita em textos e poemas. Tantos poetas sofreram por saudade. Sofreram e afundaram com esse peso no peito. Ó, como eu sofro de saudade! Como choro no meu quarto! Me descabelo tanto que me dói. Como sou sofredor! Como sinto falta! É isso que você quer para sua vida, o sofrimento dos poetas românticos? Fique com as lembranças, guarde-as com carinho, mas esqueça a saudade. Não é desrespeito ao passado, aos mortos ou ex-namoradas. É a continuidade de um caminho que se dividiu. É a sequência da sua própria caminhada e, como quem já fez o Caminho de Santiago de Compostela poderá confirmar, caminhar é saber se desapegar. Caminhar é jogar fora, é deixar para trás o que já foi. É saber seguir em frente sem aquilo que já não faz mais sentido. É abandonar o que seguiu um outro caminho. Se eles irão se cruzar lá na frente, isso pouco importa agora. É hora de olhar para a sua estrada. É hora de viver o presente de olho no futuro. Porque senão, você vai se prender naquilo que já foi e deixar de viver tudo aquilo que é. E mais tarde vai ter saudade do que hoje é e naquele momento já não vai ser mais. E, assim, sofrerá este ciclo da saudade, nunca vivendo o presente e sempre agonizando pelo que já passou. Talvez não seja por acaso que só a língua portuguesa tenha a palavra “saudade”.

Um texto de Daguito Rodrigues

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